CENA 01
Sonora
- Meus irmãos, nossa missão terrena é a de, através da prece, enveredar as almas desnorteadas nos caminhos que levam à ilimitada paz, à ilimitada luz e ao ilimitado amor.
CENA 02 Externa (Centro da cidade – Dia)
Dante percorre calçada turbulenta no centro da cidade. De repente, pára e olha para um cartão que segura. O homem esta à procura de um endereço. Continua andando até parar em frente a um prédio. Observa intrigado de cima a baixo. (câmera faz plano de visão de Dante e depois do prédio – em seguida de cima do prédio faz visão panorâmica da cidade). Dante entra no prédio, o elevador já o aguarda assim como as pessoas dentro que o olham esquisito.
Entra no elevador que se fecha
(tela preta):
- No meio do caminho da sua vida, Dante, tendo-se perdido numa floresta obscura, tenta em vão subir a uma colina luminosa: três feras, que simbolizam as concupiscências humanas, impedem-lhe o passo.
CENA 03 Elevador (maquinista, casal e Dante)
Dante: Boa tarde (ninguém responde)
Elevador quebra
Maquinista nem tenta consertar, Dante olha pra ele e esboça uma pergunta, mas não a faz. O casal começa a se beijar e acariciar sem pudores. Dante fica com cara de idiota sem ação.
CENA 04 Externa (Igreja na Maciel Pinheiro – Rua do Hospício)
Câmera percorre alguns mendigos e vendedores ambulantes que se estabelecem em frente à igreja. Dentro dela, Beatriz ajoelhada reza em silêncio olhando melancolicamente para a imagem da virgem Maria. Ela levanta-se pesarosa e sai da igreja. Zoom na mão de Beatriz que carrega um cartão com endereço.
CENA 05 Interna (Sessão espírita, Luz baixa)
Câmera circunda a mesa redonda pegando pacientemente a fisionomia de cada pessoa sentada. A mesa é ocupada por seis pessoas, estão entre eles Dante e Beatriz. Todos estão de olhos fechados menos um homem inquieto e de pé. O médium larga a mão dos outros e se dirige ainda de olhos fechados e com densidade ao homem que anda de um lado para outro. Está possuído por uma entidade e tem voz destoante.
Médium:
- Irmão, por favor, dái a vossa manifestação.
Possuído:
- Dou não
Médium:
- Irmão, sabe acaso onde estais?
Possuído:
- Sei não
Médium:
- Estais entre irmãos, irmão.
Possuído:
- Se nunca tive pai, como posso ter irmãos? Nasci numa lata de lixo.
Médium:
- Dizei ao menos qual o vosso mal e o que desejas de nós. Tudo faremos para ajuda-lo na obtenção de sua graça.
Possuído
- Eu quero um cu
Médium (abrindo os olhos)
- Que dizes irmão?
Possuído
- Uma palavra: cu
Médium
- Queres dizer angu, tatu...sururu, mandacaru...?
Possuído(socando a mesa e interrompendo)
- Só quero um cu, no singular
Médium
- Vosso nome irmão.
Possuído
- Cu
Uma senhora velha levanta com dificuldade e vai de encontro ao médium suplicante.
Senhora
- Eu sei o nome dele irmão
Médium
- Pois então diga logo
Senhora
- É Gemerário, irmão. Passou a vida me pedindo isso. Tantos e tantas dão por gosto, sem precisar pedir. Agora o coitado purga por mim, pelo negado. Se eu tivesse dado estaria em paz. Misericórdia! O que eu faço meu Deus. É tudo minha culpa! Não agüento viver com isso!
(Após longo silêncio, todos, menos o médium a velha e o possuído, dão as mãos fecham os olhos e começam a rezar o pai nosso. Sonora em off)
Câmera do teto para a mesa circular: sonora.
Repete sonora do inicio:
- Meus irmãos, nossa missão terrena é a de, através da prece, enveredar as almas desnorteadas nos caminhos que levam à ilimitada paz, à ilimitada luz e ao ilimitado amor.
CENA 05 Interna (Mesmo lugar, em close)
Dante flerta timidamente com Beatriz nesse momento.
FIM.