quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Anti-Romance

[...] Só à base de romances nenhum espírito consegue evoluir. O prazer que tal leitura pode oferecer não compensa o desgaste do caráter. Com os romances aprendemos a nos meter nos sentimentos de toda espécie de gente. Daí, adquire-se um gosto pela mudança contínua. Facilmente, convertemo-nos nos personagens que nos agradam. Todo e qualquer comportamento passa a ser compreensível. Docilmente, entregamo-nos a propósitos alheios, e assim perdemos de vista, por muito tempo, os nossos próprios. Romances são cunhas que o autor – um comediante que escreve – faz penetrar na personalidade compacta de seus leitores. Quanto mais exatos seus cálculos sobre o tamanho da cunha e a capacidade de resistência, maior a fenda na personalidade. Os romances deveriam ser proibidos pelo Estado.
(trecho de Auto-de-Fé, de Elias Canetti)